Desde que o Partido dos Trabalhadores assumiu o Governo Federal em 2003, pesquisadores têm chamado a atenção para um fenômeno que de certa forma vai de encontro com concepções usuais sobre como os movimentos sociais operam: com a chegada ao poder de um partido com fortes e históricos vínculos com os movimentos sociais muitos ativistas assumiram postos no interior da burocracia pública. Nesse artigo, nós buscamos compreender o que os ativistas fazem desde esse lugar, quais os desafios que encontram e como buscam enfrentá-los. A pesquisa é baseada em um estudo de caso sobre a Área Técnica de Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, uma agência na qual feministas, de diversas posições políticas, têm historicamente atuado. Nós sustentamos dois argumentos principais. Primeiro, que esse tipo de ativismo envolve o esforço para promover mudanças em estruturas burocráticas rígidas e, no caso em tela, sob forte pressão política, dada a recorrente disputa com os setores conservadores. Segundo que a ação das feministas dentro do Estado é condicionada pelas suas conexões com as redes de movimentos sociais fora do Estado, os quais oferecem tanto recursos quanto impõem obstáculos para o ativismo institucional.