Busca compartilhar investimentos recentes de pesquisa que buscam agregar aos estudos sobre a participação os problemas relativos aos movimentos sociais e seus repertórios de ação. Como outros autores já têm apontando, a partir do final dos anos 80, os estudos sobre participação, sociedade civil, espaço público, cidadania avançaram na mesma proporção em que os estudos sobre os movimentos sociais declinaram (Doimo, 1995; Silva, 2005). Esse deslocamento temático (Lavalle, 2003) inibiu o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa focada no papel dos movimentos na ampliação dos direitos de cidadania, assim como nas implicações da participação institucional sobre a configuração dos movimentos e suas relações com o sistema político.
Passadas mais de duas décadas de intensa experimentação democrática, como os movimentos avaliam esses investimentos na participação institucional? Qual o lugar que a participação institucional ocupa nas suas estratégias de ação vis-à-vis outras estratégias potencialmente disponíveis como a ação direta, a violência, as relações clientelistas? Em um cenário caracterizado por uma oferta significativa de participação, quais os riscos e as vantagens de participar e de não participar? Quais os dilemas específicos que a ampliação dos canais de participação impõe à ação dos movimentos e como eles têm buscado responder a esses desafios? O que acontece com os movimentos quando eles trilham o caminho institucional? E quando movimentos fortes e combativos em determinadas áreas de políticas não investem nos espaços de participação gerados, quais os impactos sobre a qualidade do debate público e a efetividade da participação que neles se engendra? Essas são questões teórica e empiricamente fecundas que emergem do encontro entre as agendas de pesquisa sobre participação, movimentos sociais e ação coletiva. A partir desse encontro é possível avançar em outras dimensões para a avaliação da qualidade dos processos participativos e seus resultados. Nas páginas a seguir busco desenvolver esse argumento. Inicio com uma breve apresentação do conceito de movimento social, à qual se segue a discussão sobre repertórios de ação e riscos e vantagens da participação institucional. Por fim, ilustro a discussão com o caso do movimento de moradia da cidade de São Paulo.