Relação entre movimentos sociais e instituições políticas no cenário brasileiro recente. Reflexões em torno de uma agenda preliminar de pesquisa

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Assistimos a uma nova inflexão no debate latino-americano sobre os movimentos sociais motivada pelos desdobramentos recentes da luta política no continente. Refiro-me a dois processos inter-relacionados. O primeiro, o aumento da participação política em suas diferentes modalidades, seja no modelo mais institucional ou a partir de diferentes tipos de ação direta. O segundo, a ascensão de forças políticas de esquerda ou centro-esquerda em vários governos da região. Combinados esses processos – que em parte resultam da ação dos próprios movimentos - alteram o cenário político no qual se dá a interação entre movimentos sociais e atores político-institucionais com interessantes implicações sobre a agenda de pesquisa nessa área. Nesse artigo, trata-se de apresentar algumas reflexões acerca do tema da relação entre movimentos sociais e instituições políticas, a partir desse cenário específico, tendo como referência a experiência brasileira recente.

A argumentação se desenvolverá em dois planos. No primeiro, busco desenvolver o argumento de que a relação entre movimentos sociais e sistema político é permeada por uma tensão intrínseca entre os princípios da autonomia e a da eficácia política. Esses princípios, embora não sejam excludentes ou contraditórios, trazem exigências de operação distintas, conformando um âmbito próprio de dilemas e tensões constitutivas às relações entre esses dois campos. No segundo, busco dar conta dos impactos da dinâmica conjuntural sobre o âmbito das relações entre movimentos sociais e atores político-institucionais, destacando duas variáveis que, resultantes da ação dos movimentos, parecem conformar novas possibilidades e desafios à ação coletiva i) a ampliação das oportunidades para a participação institucional, ii) a ascensão de governos de esquerda a postos no executivo. No caso brasileiro essas variáveis estão profundamente inter-relacionadas e em conjunto remetem a um projeto político – que denominamos democrático-participativo ou democrático-popular – que teve seu conteúdo ditado nas lutas dos movimentos sociais e que hoje explicita, em suas fissuras e contradições, os avanços e recuos do processo de construção da democracia no nosso país. A hipótese aqui é que esse cenário exacerba a tensão entre autonomia e eficácia política, com profundas implicações sobre a configuração dos atores e suas decisões estratégicas. Partindo dessas duas linhas, o texto busca explorar a relação entre contexto e estratégia, entre dinâmicas conjunturais e as modalidades participativas e seus resultados. Como pano de fundo da análise está a reflexão sobre como o contexto condiciona os caminhos da interação entre movimentos sociais e atores políticos resultando em oportunidades e constrangimentos específicos.

Autor
TATAGIBA, Luciana
Publicação
Capítulo de livro (prelo)
Ano da Publicação
2009